Este mês, eu ia falar de cortiça e do seu poder térmico e acústico, afinal esta newsletter tem sido um pouco isso – a introdução crua de materiais sustentáveis, nada mais, é apenas o início de uma intenção.
No mês da liberdade em Portugal, quero libertar também a mim, dessa pequena prisão que construí para o meu pensamento e do que posso falar ou não falar.
E eu quero abordar a palavra sustentabilidade e o seu significado.
Ultimamente, quando digo que procuro construir de forma sustentável, sou confrontado com pensamentos meus de que estou a abusar da palavra, afinal, parece que esta palavra está a sofrer de um grave problema de prostituição. Hoje qualquer coisa tem a palavra sustentável à frente, usam e abusam da palavra, deixando-a sozinha, usada e sem qualquer sentido.
Afinal, o que vale hoje a palavra sustentável?
Andamos a falar em cimento ser sustentável, ou que um carro eléctrico é sustentável, quando a produção do cimento é das indústrias mais poluentes e uma das que mais recursos gasta, e sabendo-se que, para a produção de uma bateria para um carro elétrico, temos que utilizar cobalto, sendo as minas de cobalto locais de exploração humana terríveis, situações que todos fecham os olhos para que se possa conduzir um carro “sustentável”. Se isso é sustentável, o que quer então dizer sustentável?!
Qual é o valor agregado a essa palavra, pergunto eu.
Eu hoje ainda luto comigo mesmo para que não me sinta um chulo quando digo que quero construir de forma sustentável, não quero eu também abusar de uma palavra que para mim ainda significa ter esperança de um mundo melhor.
Porque a verdade é que eu realmente quero construir de forma mais limpa, organizada, com menor desperdício, de uma forma mais econômica e de uma forma mais pensada.
A sustentabilidade do Planeta depende de pessoas que o queiram fazer.
Poderíamos apenas afirmar que o mais sustentável seria não construir, e resignados ficamos parados a assistir a este abuso violento de tão importante palavra.
Mas essa não é a solução, ficar parado a assistir a este massacre ainda é menos sustentável ainda.
A verdade é que é possível construir de forma sustentável, se cada passo for pensado, se cada ação for calculada, e eu, em cada momento, desde que traço a primeira linha do projeto, essa linha nasce com a responsabilidades, com um propósito e com uma vontade.
Eu digo que temos que ter uma fórmula para medir a sustentabilidade de uma ação, para depois lhe atribuir um valor positivo ou negativo, para fazer um ranking, uma escala.
Um exemplo:
Estão hoje empresas a produzir tomadas e interruptores com plástico reciclado, reaproveitado, é isso sustentável? Eu diria que sim!
Mas será que se eu cá em Portugal comprar essas tomadas e interruptores dessa empresa norte europeia, seria sustentável? Ou melhor, tem uma pontuação positiva em relação a umas tomadas e interruptores feitos de plástico, mas feitos em Portugal perto do lugar onde serão instalados?
Podemos então considerar que o material pode até ser considerado sustentável, mas que se for utilizado de forma incorreta pode deixar de o ser.
O material tem que ser o mais sustentável possível, sim! Mas não só, o seu transporte também, a sua logística de instalação, o seu custo, todos os fatores têm de ser observados para que seja sustentável também para a pessoa que quer adquirir tal material, de modo a medir também o impacto de tal material na comunidade tanto na sua origem (fabricação), como no destino final (instalação).
Temos que ter uma percepção holística da construção para que no fim consigamos ter atingido o objetivo da sustentabilidade em que todos ganham, o dono da obra, o construtor, a comunidade e o ambiente.
Eu acredito que podemos mudar o destino do nosso planeta, e os nossos filhos e netos ainda podem ter esperança. O trabalho é árduo, mas quando depende de proteger o destino dos nossos filhos não descansamos, e não vamos parar, eu não vou parar!
Pedro Branco